Rosa XL

Rosa XL

A porta continuava aberta. Tinha daquelas fitinhas para não deixar entrar as moscas, como se usam nos talhos para impedir uma invasão de lacraus alados com força romana. Sentava-se ali naquele murinho, ensonado por outra noite mal dormida. As asperezas de Aurélio eram assim vividas como se fosse um passarito colocado à beira do ninho por desprezo da própria mãe. Havia acumulado uma quantia razoável na conta bancária mas faltava-lhe todo o resto. A mulher desapareceu sabe-se lá para onde, enfiada no descapotável de um gajo qualquer. Os filhos estavam emigrados na Suíça e não queriam saber dele para nada. Aurélio então ficava na portinhola de casa, testemunho ocular de aves voando em gracejos, bebericando no chafariz que havia naquela ruela. Tinha um radiozito a pilhas onde ouvia o noticiário e uns faditos para entreter. De resto deixava que o ócio lhe consumisse as entranhas, num vagar solitário de uma morte antes de o ser.