Rosa XLI

Rosa XLI

As bailarinas de São Teotónio viviam encardidas por uma espécie de praga silente que lhes atormentava o sono. Revestiam-se de sal como proteção mas isso de pouco lhes servia para assarapantar o que por vezes aparecia em sulcos subtis na pele, como se houvessem sido mordidas por um bicho que nem sequer aparece nas grandes enciclopédias. Riam-se de nervoso entre elas, mas a situação começara a ganhar dimensões deveras preocupantes. Debatiam soluções, recorriam a especialistas em desbaratizações ou coisa que as valesse; haviam até deixado a sua sorte entregue ao bruxo local, moroso senhor que usava topete no seu capitel. Durante anos foi o segredo mais bem guardado naquele vilaresco escondido por entre a paisagem serrana. Aquilo que as acometia desapareceu num trovão súbito aquando de uma morte inesperada: Susana Heitor cambaleou até ao chão, altura em que se despediu das outras bailarinas perguntando ‘A minha filha?’.