Rosa XXXVII

Rosa XXXVII

Maria era dona de uma joalharia em São Domingos de Rana. Tinha o estranho hábito de colecionar missangas esverdeadas para dar aos filhos nos pequenos-almoços antes de saírem de casa. Ria-se das desventuras dos famosos. Sabia-se que era uma das mais queridas donas da casa da região, preparando bolos confecionados com leite coalhado e outras minudências que ela própria escrevinhava num bloquinho de notas que oferecia também aos filhos pelo Natal. O seu riso desbragado era lindíssimo, de uma coloquialidade que só a Dona Maria saberia erguer como astro-mor da sua passagem por esta existência vã e lúgubre. Gostava de usar saias pelo joelho e de se entreter a fazer palavras cruzadas que trazia no bolso do avental. Os seus dias não tinham espanto, mas sim a cordialidade de uma vida pronta a servir. E serviu como soube: rindo, cozinhando, oferecendo, lendo, escrevendo, sendo.