A pedra tumular de Herodes tinha duas pequenas inscrições circulares que se debatiam com o peso imediato da chuva. Eram por definição convexas, ladrilhadas em mármore negro. A serralharia responsável batizou-a de Pedra Seráfica por comportar dois terços do peso total do túmulo. O cadáver foi enrodilhado em linho púrpura, tecido caro adquirido em Fez. A lixívia usada era falsa, composta por um líquido dissolvente capaz de derreter o mais empedernido marisco, a mais forte loiça-diamante.
Quiseram-lhe ver os olhos, mas Herodes estava conspurcado pelo mal, pelo acinte de um guerrilheiro destruído por dentro, por uma casus belli surda, sem sentido. O dinheiro que lhe sobrou foi entregue aos pais numa caderneta doirada com dois distintivos soezes que indicavam a proveniência. Os sais que lhe colocaram na língua rapidamente derreteram para fundir três grandes buracos, expostos à lama que o encobriu. A sua alma prolongou-se às esferas celestes para aí ser recusada. As camareiras que dele cuidaram viram-no ressurgir aziago num monte, soçobrando de culpa, recriminando-se pelos actos pútridos que havia praticado.
O seu julgamento foi solene, sem complacência. Foi-lhe retirado o poder da visão. Ter-se-á encontrado moribundo depois, à mercê de espectros fálicos e dolentes, implorando perdão pelos actos que havia cometido. O seu caso não foi reaberto.