Rosa XXI

Rosa XXI

Escondia uma velinha entre mãos, escultora branda de uma capela em éter. Acendia-a todos os dias com a tempestuosidade calma dos ouvintes de ópera em cálidas noites de jardins abertos, onde passeiam condes e condessas. Era nessa vela que vislumbrava o mundo em capítulos, atirando sobre elas pequenos seixos leitosos, tentando destrinçar a fortuna que lhe chegaria pelas brechas do quarto. De vez a vez sentia uma correnteza por entre as pernas sadias de leoa, altura em que se baixava para tapar os tornozelos com frio. Agasalhava-se com um casaquinho de malha bege, esculpido pelas mãos carmesim da avó. Sentia-se tonta quando a velinha tremelicava em trejeitos nobres, apontando o lume acobreado às suas sobrancelhas. A fronte rosava-se num abrir-e-fechar penumbroso até ser hora de deitar, quando a cera crepitava em murmúrios ao som da chuva. Deitava a cabeça na almofada de linho e soprava-a para ter bons sonhos.