Rosa XXIV

Rosa XXIV

As pálidas luminescências que por ali se avistavam erguiam as asas como condores maiores de um plano superior, existência hierárquica ditada pela presença invisível. Intumesciam-se os peixes no novilúnio, prontificados a esboroarem as próprias escamas num gesto de comunhão serviçal ante a soturna languidez daquele final de dia. Os hercúleos gritos que se ouviam ao longe lembravam batalhas napoleónicas encardidas pelo sangue jorrado sem piedade à luz do sol. As gaivotas amainavam as águas com as suas patas de alguidar seco, deixando-se ir nas correntezas velhacas daquela maré fétida cheia de corpos cilíndricos que se despojavam de tudo nas encostas frias da terra. O baloiçar lento das nuvens arrepiava a pele dos ausentes, atirados para sempre aos Dardanelos num safanão vil e despudorado. Lenços brancos ao longe mostravam uma presença humana silenciosa e irrequieta, massa argilosa dos deuses brandos.