Rosa XXV

Rosa XXV

Nas suas madeixas rosa tricotavam-se cantos delfinos de uma pureza nobre. Vestia tesouros alinhados com o diapasão estelar, notas de pequenas canções fúnebres onde era possível testemunhar pequenos oráculos com lívidos e antigos motivos. Escutavam-se nos entretantos do seu pentear monótono, repetido na surdez das noites silvadas pelos grilos ao longe, rumores ziguezagueados pelo vento nortenho. A água burilava pequenas cantigas de embalar nos telhados vizinhos, enxaguando os sonhos dos bezerros que se aninhavam entre si para matar o frio. As lebres faziam-se velhas para afinar a caça, de olhos desabridos pela chuva que lhes encrespava o pelo diagonal. Os casebres fumegavam pacotes de ar quente que se desprendiam no luar ausente, oriundos de salas vazias no tempo. O truz-truz ventoso incandescia a passagem de um nervo ufano, sôfrego na lentidão da tempestade castelã, retinindo nos ouvidos de todos como a última canção antes da morte.