Laurentino tinha um espelho fiel onde guardava relâmpagos que lhe caíam ao colo. Soçobrava nos intervalos da escola, quando o chamavam ao pátio. Recusava-se a ir. Tinha o peito cravado por balas de borracha colecionadas em pequenos tragos de leite, sobre o qual dormitava noite adentro, afoito como um silente dançarino de salão. Lia salmos por ter vontade de o fazer, balia alto como um jumento perdido entre as várzeas poluídas de setembro. Cheirava mal dos pés e por isso escondia-se das raparigas com vergonha estulta. Achava-se atrasado mental por ser demasiado polido para este mundo e por isso testemunhou tudo de longe como se faz lá fora, nas Américas, onde há sempre um mandrião disposto a colocar tudo numa pasta de cinema e a sair a pé para outro monte qualquer, desses de cowboys esventrados pela força bruta dos animais do campo. Ninguém sabe o que será de Laurentino.