Rosa XXXVIII

Rosa XXXVIII

Carlos, o Mago fazia truques para encolher os inimigos. Dizia que eles tinham lombrigas e outras asperezas pelo corpo para lhes entortar os destinos e condená-los à dor perpétua de com ele se terem metido. Vergastava-os com pozinhos de azevinho e mel, arregimentava hordas de anjos imaginários para avançar contra esses carrancudos garotos que o importunavam nos recreios. Usava palavras encantadas para os lançar aos mortos e depois deixava-se estar quieto à espera que o método apresentasse solução óbvia. Mas raramente acontecia. Por hábito, era ele, Carlos, o Mago, que era vetado ao exílio petulante, ao escárnio doente, à troça insípida que lhe embebia a alma num vomitório em formol. Enxugava as lágrimas aos lenços que trazia de casa, redobrados pela avó numa mantinha soluçante em tons rosados. Até isso servia como perfídia bárbara para os que o acusavam de lingrinhas, de fraco perante aqueles animais cobardes que o agrediam com bofetadas ocas de mão cheia, que o faziam verter sangue dia após dia, que o faziam ajoelhar-se de forma piedosa, pedindo clemência ante os sopapos inchados que lhe cruzavam a pele como remoques de deuses esquecidos dos mais fracos. Carlos, o Mago tombou celeste como uma estrela e fê-lo com a força do silêncio.